“Obedecer a lei de Deus e fugir do pecado, é isso que determina o seu destino eterno”
Ministeriado em Cura e Libertação, Frei Josué Pereira, da Ordem dos Frades menores conventuais da Província de Brasília, explica o que é purgatório e o que acontece com a alma quando se desliga do corpo e fica neste lugar à espera da salvação.
cancaonova.com: O que é o purgatório?
Frei Josué: O purgatório é uma das realidades que acontecem depois da morte. É um dogma de fé da Igreja e quem não o aceita, não pode se dizer completamente católico.
Depois da morte, que é a separação do corpo e da alma, acontece o juízo particular. Ali, a alma é julgada por Deus e tem dois destinos: a eternidade feliz (o céu) ou a eternidade infeliz (o inferno)(…) No céu só entram os puros, e a Palavra é muito clara: “Os puros de coração verão a Deus”. O purgatório, então, é uma antessala do céu. As pessoas que morreram arrependidas de seus pecados e se confessaram, não vão para o inferno. O que as leva para lá é a culpa dos pecados, mas estes também tem as penas temporais, que é o estrago que ele próprio causou à pessoa, à sociedade e à Igreja como um todo. Então, essa pessoa tem de passar por um processo de purgamento (daí o nome purgatório; de purificação) para ver a Deus.
cancaonova.com: O que acontece com as almas enquanto estão neste lugar?
Frei Josué: Quando acontece a morte, acaba-se o chamado ‘merecimento’. Você não merece mais nada, só pode esperar na misericórdia de Deus e na oração dos vivos. As almas ficam no purgatório por um tempo, mas é claro que o tempo do Senhor é bem diferente do nosso, pois estamos falando de uma realidade pós-morte, quer dizer, num sentido atemporal.
Quando dizemos tempo, quer dizer que tem uma duração, ou seja, um início e um final. As pessoas ficam submetidas à misericórdia divina, purgando todas as penas desses pecados até poderem, livremente, ver a face de Deus na glória que nós chamamos de céu.
cancaonova.com: Como se determina esse tempo?
Frei Josué: Esse tempo é determinado de acordo a gravidade dos pecados cometidos e as suas consequências, que são as penas. Muitos santos tiveram a graça de Deus, como Santa Catarina de Gênova e o próprio São Francisco, de serem levados em êxtase ao purgatório; e todos são unânimes em dizer que é um lugar de grande sofrimento.
Mas lá existe uma coisa que não existe no inferno, a esperança. Se as almas recebem orações daqui e as aceita, claro que esse purgatório pode ser diminuído. São os mistérios da misericórdia de Deus.
cancaonova.com: Estando lá, as almas podem ainda obter salvação?
Frei Josué: Sim, elas não vão mais para o inferno. Essa é a grande alegria; por isso não se desesperam. Elas sabem que ofenderam a Deus, pois ali se tem consciência total da gravidade dos pecados. Por isso, cada vez que formos pecar aqui na terra, devemos pensar, porque é desesperador saber que Deus está ali, atrás da porta, mas você não consegue vê-Lo.
A única coisa que consola uma alma é a visão beatífica de Deus. Então, de um lado há um grande esforço de querer ver Deus; por outro, um reconhecimento profundo de que não se está preparado ainda. É um dilema, uma dor; e essa dor é purgativa, cura e faz com que ela pague todo o castigo merecido pelas penas dos seus pecados.
cancaonova.com: Todos nós passaremos por este lugar?
Frei Josué: Uma coisa muito importante é sabermos que existe o arrependimento perfeito. Um exemplo disso é Dimas, o bom ladrão que está ao lado de Cristo na crucifixão. Ele teve um arrependimento tão perfeito, que o Senhor lhe disse: “Ainda hoje estarás comigo no Paraíso”(Lc 23,43).
Por outro lado, alguns textos da Palavra de Deus como Mateus, capítulo 5, diz assim: “Entrem em acordo, sem demora, com o seu adversário, enquanto ainda estás em caminho com ele, para que se suceda que te entregue ao juiz e o juiz te entregue ao ministro e te seja posto em prisão. Em verdade eu te digo, dali não sairás antes de ter pago o último centavo” (cf. Mt 5,25-26). Este é o purgatório.
Para a maioria de nós é muito difícil, mesmo diante de confissão e tanto conhecimento, fazer um ato de arrependimento perfeito, arrepender-se de coração. Elas pensam assim: “Eu preciso ir para o céu, tenho de me arrepender”. Mas, muitas vezes, elas sentem vergonha de ter feito aquilo, mas não de ter ofendido a Deus.
A contrição perfeita, que nos livra do purgatório, é essa consciência que as almas do purgatório tem: “Eu ofendi a Deus, não podia ter feito isso. Ele me deu tanto amor, tanta graça necessária para a minha salvação, mas eu não aproveitei. Eu mereço isso, eu merecia o inferno”. É um misto de contrição e esperança. Então, se vai passar pelo purgatório ou não, depende da contrição perfeita. Por isso, é importante confessar-se sempre.
cancaonova.com: Ele pode se tornar definitivo para algumas almas?
Frei Josué: Não. Inclusive, quando Jesus voltar, ele eliminará o purgatório; só haverá o céu e o inferno.
cancaonova.com: Até mesmo os santos tem a obrigatoriedade de fazer essa passagem?
Frei Josué: O que é um santo? É aquele que praticou as virtudes em grau heróico. Muitas pessoas são santas e estão no céu, mas não são canonizadas. Quando a Igreja canoniza um santo, está dizendo que ele é um modelo perfeito, uma pessoa bem parecida com Cristo. Então, esse processo de purificação já foi pago aqui.
Eu preciso falar também que existem três realidades que nos ajudam a evitar ou até a cortar o próprio purgatório. A primeira é a caridade, pois a Palavra diz que a caridade apaga uma multidão de pecados. Então, a pessoa que é muito caridosa, faz muito bem aos pobres por amor a Jesus – e essa é a verdadeira caridade –, ela paga muito do seu purgatório aqui na terra.
Uma outra graça é aceitar os sofrimentos com paciência. Se aceita com paciência, humildade, já estão vivendo aqui o seu purgatório. Uma outra forma são as indulgências plenária ou parcial, porque elas perdoam as penas dos pecados. Se a Igreja determina que um tempo seja de indulgência e você faz algumas práticas de piedade, como uma hora de adoração e a oferece nas intenções do Santo Padre, você ganha indulgências, ou seja, o perdão das penas. O seu purgatório está sendo evitado. Você também pode aplicar essas indulgências às almas dos seus falecidos, que você deve sempre rezar por elas.
cancaonova.com: O que leva uma pessoa para o céu ou para o inferno segundo a Igreja?
Frei Josué: O que determina é a recompensa que cada um receberá das suas obras. Deus retribuirá a cada um de acordo com elas. É a prática ou não dos dez mandamentos resumidos em dois: “Amar a Deus sobre todas as coisas” e “Amar ao próximo como a si mesmo”. Obedecer a lei de Deus e fugir do pecado, é isso determina o seu destino eterno, ou seja, o céu e o inferno começam aqui, consequentemente, o nosso purgatório também.
cancaonova.com: Por que a Igreja Católica reza pelas almas do purgatório?
Frei Josué: Justamente por que a Igreja acredita, como a Palavra de Deus nos ensina, que quando uma pessoa morre, ela não pode mais fazer nada por ela mesma, pois está entregue à misericórdia de Deus e a sua própria história, pela qual ela é julgada. Mas os outros podem fazer isso por ela. É uma prática bíblica; sempre se rezou pelos mortos. Os primeiros santos foram mártires e, no túmulo deles, se fazia oração. Então, sempre houve essa questão da comunhão.
cancaonova.com: As almas do purgatório podem interceder por nós?
Frei Josué: Claro. Elas não podem fazer nada por elas mesmas, mas podem oferecer o sacrifício. E quem reza tem esse grande privilégio de receber auxílio em muitos momentos. E quando essas almas saírem do estado de purgatório e chegarem ao céu, à plenitude da salvação, verdadeiramente elas vão poder fazer mais por nós.
FONTE: Canção Nova
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