quarta-feira, 6 de maio de 2009

IGREJA E AIDS - A IMPORTÂNCIA DA VERDADE‏


Por LUCETTA SCARAFFIA

Fonte: L'Osservatore Romano, Ano XL, Número 13 (2009)


OBS: SIDA significa Síndrome de Imunodeficiência Adquirida; (em inglês AIDS, que significa Acquired Immune Deficiency Syndrome).

Certamente a característica da missão de Bento XVI é a verda¬de. É-o para tudo, inclusive para o problema da SIDA e dos preser¬vativos, um tema preocupante que — poder-se-ia imaginar facilmente — foi abordado durante a sua viagem à África. No meio das polêmicas suscita¬das pelas suas palavras, um dos mais prestigiosos jornais europeus, o britâ¬nico «Daily Telegraph», teve a cora¬gem de escrever que, sobre o tema dos preservativos, o Papa tem razão. «Certamente a SIDA — lê-se no artigo — apresenta o tema da fragilidade hu¬mana e sob este ponto de vista todos devemos interrogar-nos sobre o modo de aliviar os sofrimentos. Mas o Papa é chamado a falar sobre a verdade do homem. É a sua função: ai dele se não o fizesse».

O problema da SIDA apresentou-se imediatamente, desde quando a doen¬ça se manifestou nos Estados Unidos nos primeiros anos 80, não só sob o ponto de vista médico, mas também cultural: a explosão da epidemia sur¬preendeu uma sociedade que acredita¬va ter derrotado todas as doenças in¬fecciosas, e desde o início tocou um âmbito, o das relações sexuais, que há pouco tinha sido «libertado» pela re¬volução sexual. Com uma doença que punha em discussão o «progresso» al¬cançado e que se difundia rapidamen¬te graças também à onda de cosmopo-litismo que se estava a realizar com os novos e velozes meios de transportes.

Ficou imediatamente claro que tal patologia era fruto de uma moderni¬dade avançada e de uma profunda transformação dos costumes, e que tal¬vez a luta para a prevenir tivesse que considerar também estes aspectos. Ao contrário, no mundo ocidental, as campanhas de prevenção foram basea¬das exclusivamente no uso dos preser¬vativos, dando por certa a obrigação de não exercer alguma interferência nos comportamentos das pessoas. O «progresso» não deveria ser colocado em discussão; nem na África, onde era evidente — e onde até agora é eviden¬te, se os dados da Organização Mundial da Saúde sobre a difusão da SIDA fossem lidos com honestidade — que apenas a distribuição de preservativos não pode conter a epidemia.

Na África, o preservativo não é usa¬do de maneira «perfeita» — o único que garante 96% de defesa contra a infecção — mas de modo «típico», isto é, com uma utilização não continuada nem apropriada, que oferece 87% de defesa, e além disso dá uma segurança que pode ser perigosa no relaciona¬mento com os outros: como se sabe, a SIDA não é transmitida só através da relação sexual, mas também por via hemática, portanto basta um arranhão, um pouco de sangue, para abrir a pos¬sibilidade de contágio.

Também é pre¬ciso lembrar, como está escrito nas cai¬xas dos preservativos nas instruções pormenorizadas sobre o seu uso, que se podem danificar facilmente com o ca¬lor — são de látex! — e se forem tocados com mãos ásperas, como as de quem faz trabalhos pesados. Mas as indús¬trias farmacêuticas, tão exatas ao assi¬nalar estes perigos, depois são as mes¬mas que apoiam a lenda segundo a qual a difusão dos preservativos pode salvar a população africana da epide¬mia: e pode-se facilmente imaginar que cada idéia para difundir o seu uso é recebida com verdadeiro júbilo pelos seus departamentos comerciais.

O único país da África que obteve bons resultados na luta contra a epide¬mia foi Uganda, com o método ABC, no qual A significa abstinência (absti¬nence), B fidelidade (being faithful) e C preservativo (condom), um método decerto não totalmente em conformidade com as indicações da Igreja. Até a re¬vista «Science» reconheceu em 2004 que a parte de bom êxito do programa foi a mudança de comportamento se¬xual, com uma redução de 60% das pessoas que declaravam ter tido várias relações sexuais, e o aumento da per¬centagem dos jovens de 15 a 18 anos que se abstiveram do sexo, e escreveu: Estes dados sugerem que a redução do número de parceiros sexuais e a abs¬tinência entre os jovens não casados, ao contrário do uso do preservativo, foram fatores relevantes na redução da incidência do HIV.

Muitos países ocidentais não querem reconhecer a verdade das palavras pro¬nunciadas por Bento XVI, quer por motivos econômicos — os preservativos custam, enquanto a abstinência e a fi¬delidade são obviamente gratuitos — quer porque temem que dar razão à Igreja sobre um ponto central do com¬portamento sexual possa significar um passo atrás na fruição do sexo pura¬mente hedonista e recreativo, que é considerada uma importante conquista da nossa época.

O preservativo é exal¬tado além das suas efetivas capacida¬des de deter a SIDA porque permite à modernidade continuar a crer em si mesma e nos seus princípios, e porque parece restabelecer o controle da situa¬ção sem nada mudar. É precisamente porque tocam este ponto nevrálgico, esta mentira ideológica, que as pala¬vras do Papa foram tão criticadas. Mas Bento XVI, que o sabia muito bem, permaneceu fiel à sua missão, a de dizer a verdade.

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