O Cardeal Achille Silvestrini explica que Pio XII buscou diminuir os prejuízos ao povo judaico
"O Papa trabalhou a fim de que as igrejas e instituições católicas acolhessem quantos judeus fosse possível, [...] mas um protesto explícito traria mais prejuízos que benefícios", defende o Cardeal Achille Silvestrini sobre o papel de Pio XII durante o Holocausto.
Silvestrini foi testemunha e, por muitos anos, protagonista da diplomacia vaticana. A entrevista foi veiculada na edição em italiano do Jornal L'Osservatore Romano, periódico oficial do Vaticano, nesta terça-feira, 2.
Com o subtítulo "Novidades que não são nada novas", o cardeal italiano fala sobre dois documentos provenientes dos arquivos britânicos de Kew Gardens. Os textos em foco são um telegrama de 19 de Outubro de 1943 e uma carta de 10 de Novembro de 1944, que "comprovariam" a omissão do Papa durante o nazismo.
"Diante do Holocausto, os Aliados e todos os outros foram silenciosos, mas apenas se pedem explicações sobre Pio XII, os outros nunca vêm para a mesa de discussão", salienta Silvestrini.
Ao falar sobre os dois documentos, o cardeal explica que Pio XII conhecia muito bem o que era o nazismo, já que havia sido núncio na Alemanha entre 1917 e 1929.
"Pio XII considerava o que aconteceu aos bispos holandeses como um aviso a não fazer o mesmo. O episcopado da Holanda tinha escrito uma carta em que condenava 'o tratamento cruel e injusto reservado aos judeus'. Aquele documento foi lido nas igrejas holandesas em julho de 1942. As intenções eram boas, mas os resultados foram desastrosos. Exatamente nos países em que os sacerdotes tinham mais duramente denunciado a perseguição aos judeus é que foram maiores as deportações, mais que em qualquer outra nação da Europa Ocidental", destaca o cardeal.
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