sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

QUARESMA, JEJUM E SILÊNCIO


A Quaresma é para os cristãos um tempo privilegiado não só porque prepara a festa litúrgica mais importante do ano, a Páscoa, mas também porque convida os fiéis a porem ordem nas suas vidas.

Durante quarenta dias, através da oração e da penitência, renunciando ao supérfluo, abrimo-nos mais facilmente à conversão e tornamo-nos mais disponíveis à reconciliação com os irmãos.

Agrada-me pensar que a palavra «quaresma» deriva do latim quaerere, que significa procurar, desejar, empenhar-se. Santo Agostinho aos seus fiéis de Ipóna propunha precisamente este empenho no início deste tempo forte na Igreja: rezar mais, jejuar mais, dar mais.

Neste tempo intenso na vida da Igreja, não nos esqueçamos que as verdadeiras mudanças e acontecimentos da história humana, individual ou comunitária, iniciam com uma peregrinação ao deserto interior de cada um. Ali acontece o confronto necessário com as forças sombrias da própria identidade: a desordem, a falta de harmonia, a instabilidade, a falta de verdade, as dissonâncias e as recusas que moram no nosso coração. Todavia, também o confronto com o bem que habita em nós: a fé, a alegria, a paciência, a esperança e a bondade.

Também o silêncio nos ajudará a superar o efémero para mergulharmos no eterno presente de Deus. Só a fecundidade do silêncio nos ajudará a superar as dissonâncias dos sons, das imagens e das vozes à nossa volta. No silêncio, Deus começa a falar e endireita o caminho do ser humano, mantém viva a fé, ajuda a amadurecer as grandes decisões.

Nesta Quaresma a nossa disponibilidade para Deus é fundamental, de modo que, como dizia o grande poeta Rainer Maria Rilke, O possamos ouvir dizer-nos: «Se te acontecer procurares-Me, pensa-Me: Eu estarei dentro de ti.»


José Carlos Nunes- Revista Familia Cristã

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